Publicado por Autism Asperger's Digest Magazine
No último artigo discutimos o primeiro dos Quatro Passos da Comunicação: Pensar acerca da pessoa com quem estamos a comunicar. Agora vamos explorar estratégias concretas relacionadas com esse passo.
No último artigo discutimos o primeiro dos Quatro Passos da Comunicação: Pensar acerca da pessoa com quem estamos a comunicar. Agora vamos explorar estratégias concretas relacionadas com esse passo. Ao longo dos próximos artigos iremos abordar os restantes passos da comunicação: estabelecer e manter a presence física, pensar com os nossos olhos e utilizar a linguagem para nos relacionarmos com os outros.
Todos nós nos envolvemos num processo de pensamento relativamente inconsciente quando consideramos aqueles que se encontram ao nosso redor. "Por que é que esta pessoa está ao pé de mim?", "Iremos comunicar?", "O que é que já sei a seu respeito de outras ocasiões onde estivemos juntos?", "O que é que sei acerca da sua vida?"
Também utilizamos o nosso conhecimento acerca da consciência social interna que partilhamos com os outros. Isto inclui os aquilo que é esperado que todos saibamos uns acerca dos outros:
Compreender que as pessoas têm pensamentos únicos, resultantes das suas experiências individuais.
Saber que, por vezes, as pessoas manipulam o nosso pensamento, tentando fazer-nos pensar algo que não é verdade.
Reconhecer que os pensamentos das pessoas afectam as suas emoções, e que as suas emoções afectam os pensamentos.
Para além disso, quando nos encontramos envolvidos nim processo comunicativo, estamos constantemente a analisar os nossos próprios pensamentos e os pensamentos dos outros como forma de nos ajudar a navegar na "dança social" a que chamamos comunicação. A maior parte de nós aprende isto intuitivamente. No entanto, os alunos com desafios na área da tomada de perspectiva têm que aprender esta informação cognitivamente, através de um ensino explícito, que é em si uma forma muito mais lenta de aprendizagem.
Uma vez que os actos comunicativos não são apenas um conjunto de competências, mas sim competências que são processadas e que devem produzir uma resposta em menos de 3 segundos, temos ainda que acrescentar a este processo ainda outra dificuldade; é suposto que todos nós sejamos capazes de executar o tipo de pensamento descrito acima à velocidade da luz (de milésimas de segundos a 2 segundos!)
O nível de funcionamento e a velocidade da tomada de perspectiva são aspectos que variam consideravelmente nos alunos que se encontram dentro do espectro do autismo. Alguns compreendem que as outras pessoas têm pensamentos e experiências que diferem significativamente dos seus e que isto determina uma forma diferente de pensar. Para outros alunos, considerar que os outros têm pensamentos únicos, já é um problema. Só podemos desenvolver um plano de acompanhamento quando conhecermos qual o seu nível de conhecimento social.
Os alunos que utilizam a linguagem para comunicar mas que não conseguem compreender os pensamentos, motives, emoções e crenças das outras pessoas, são referidos como Emerging Perspective Takers (EPT). O nosso objectivo com este grupo é ajudá-los a aprender acerca do processo de pensamento; que cada pessoa tem pensamentos diferentes; que temos que tentar imaginar quais são esses pensamentos e depois ajustar-nos o nosso comportamento a isso. Podemos ensiná-los utilizando os seguintes níveis de pensamento social (Devem ser ensinados na ordem em que estão descritos).
Nível 1: Eu tenho pensamentos.Ensine o aluno a estar atento aos pensamentos que tem acerca das outras pessoas. Quem se está a portar bem? Quem está a ser mal criado? Quem o faz sentir bem, e quem o faz sentir mal? Quem segue as regras e quem as quebra?
A chave para ensinar os alunos EPT é dirigir a sua atenção para a criança e fazer com todas as lições sejam relevantes para a sua vida. Estes alunos ainda não compreendem o suficiente acerca da mente das outras pessoas para poderem jogar ao faz-de-conta, ler histórias acerca delas ou apreciar as suas experiências. A este nível, todo o ensino deve ser centrado no aluno, egocêntrico.
Nível 2: As outras pessoas têm pensamentos.O que é que a outra pessoa está a pensar? Em que é que ela repara? Será que ela sabe quem está a agir conforme o esperado ou quem está a quebrar as regras? Mostra algum sentimento acerca disso? Ensine o aluno a fazer previsões a respeito dos outros; no que é que achas que ele gosta de pensar? Como é que achas que ele se sente? Utilize as bandas desenhadas de conversação (Carol Gray) para fazer imagens do que os outros podem estar a pensar.
Nível 3: Eu consigo descobrir no que estás a pensar ou aquilo que sabes.Olhar para os olhos das pessoas para descobrir no que estão a pensar, baseando-se naquilo para que está a olhar. Ajude o aluno a discernir quando alguém está pensar nele ou quando está a pensar noutra pessoa.
Desenhe pessoas diferentes (também pode usar autocolantes!) e os seus balões d pensamento. Por exemplo, desenhe o aluno, a Mãe e o Pai, o professor e outro personagem que represente o homem que vende pipocas no cinema. Crie cenários simples que ajudem o aluno a aprender que as pessoas têm um conhecimento diferente, dependendo das suas experiências. Por exemplo, quem é que sabe onde estão guardadas as chaves de casa? (O aluno? A Mãe? O Pai? O vendedor de pipocas?). Por que é que é essa pessoa que tem (ou não tem) a informação? Quem é que sabe onde fica a sala de aula do aluno? Por que é que essa pessoa sabe isso? Quem é que sabe por a máquina de pipocas do cinema a funcionar? Deixe que o aluno tenha muitas oportunidades de trabalhar neste tipo de situações. Para alguns, a compreensão do conceito pode demorar um pouco.
Nível 4: Eu posso ( e devo) ajustar o meu comportamento, baseando-me naquilo que penso que os outros sabem.Utilize outra vez a banda desenhada e os balões de pensamento. A quem devo eu contar a respeito do meu fim de semana em família na praia? À Mãe, ao Pai, ao meu professor, ao meu colega da escola? (Resposta: O aluno deve contar ao seu professor ou ao seu colega porque a mãe e o pai já lá estiveram) por que é que deve contar ao professor e ao colega? (Porque não estiveram lá) Ajude os alunos a aprenderem sobre o que as pessoas sabem e não sabem antes de se envolverem numa conversa. Este nível de consciência também ajuda a que haja um desenvolvimento da linguagem narrativa.
Ajustes para os alunos IIPTOs alunos com uma idade superior a 8 anos, que funcionam a um nívek mais elevado de tomada de perspective, um nível que eu descrevo como Impaired Interactive Perspective Takers (IIPT), precisam de ser ensinados com estratégias que focadas na aprendizagem das nuances da informação e do pensamento social. Estes alunos são, geralmente, muito dotados a nível verbal e conseguem facilmente falar acerca do pensamento das outras pessoas. No enanto, eles continuam a ter dificuldades em ajustar o seu comportamento com base naquilo que os outros possam estar a pensar. Exsite um conjunto de lições para ajudar este grupo a estudar e praticar as nuances sociais. Alguns destes conceitos fundamentais são os seguintes:
As pessoas têm pensamentos a teu respeito a todo o momento, tal como tu também tens pensamentos acerca dos outros todo o tempo. Por isso devemos monitorizar o nosso comportamento, considerando aquilo que estão a pensar sobre nós e ajustá-lo se for necessário.
Os nossos amigos são pessoas que nos fazem sentir bem, portanto, se queremos parecer simpáticos, temos que fazer perguntas às pessoas baseadas naquilo que sabemos serem os seus interesses.
As regras sociais mudam com a idade. É vital ajudar os alunos a compreender de que forma modificamos o nosso comportamento à medida que crescemos e nos tornamos mais velhos. Por exemplo, na escola primária somos ensinados a pedir desculpas quando fazemos algo mal. Mas, no liceu, temos que perceber que "as nossas acções falam mais alto do que as palavras" e que um pedido de desculpas pode não ser o suficiente
Quando trabalhar com os alunos IIPT, assegure-se que utilize algum tempo para discutir as nuances do cérebro social, as suas próprias observações dos outros, reparando nos comportamentos sociais esperados/inesperados, etc. Depois permita que o aluno pratique muitas vezes, modificando o comportamento de acordo com aquilo que quer que as outras pessoas pensem a seu respeito.
No âmago do trabalho com o pensamento social está a criação de estratégias e de uma linguagem comum que ajude os nossos alunos a pensar no impacto que as suas palavras e acções (ou não-acções!) têm nas mentes e pensamentos das outras pessoas. Cada aluno é diferente, e as situações que envolvem experiências da vida real serão as mais significativas. Espero que estas discussões, e aquelas que hão de vir, sirvam como rampa de lançamento na criação das suas próprias estratégias, para ensinar as pessoas importantes na sua vida a pensar socialmente!